segunda-feira, 21 de abril de 2008

AS PERPESCTIVAS NEO-ANALÍTICAS DA PERSONALIDADE:

Por Conceição Serralha



A IDENTIDADE

- Os sucessores de Freud dedicaram-se ao estudo do ego, pois o consideravam

uma força importante e independente na psique e não era apenas uma reação ao id.

- Self consciente => é o que nós pensamos que somos => componente fundamental das

concepções modernas da personalidade.

- Principais teóricos dessa perspectiva.

1- Jung => interessava-se pelos aspectos universais e profundos da personalidade. Ampliou as idéias sobre o inconsciente, para abranger imagens emocionalmente carregadas, e quase instintivas, que parecem características de todas as gerações. Interessava-se também pelas crenças que partilhamos.

- Inconsciente pessoal => pensamentos e sentimentos que não são conscientes no presente, mas podem ser acessados. Foram reprimidos intensamente por significarem ameaça ao ego. Tanto o que foi reprimido por ameaçar o ego, quanto o que não é importante ser lembrado no momento fazem parte do inconsciente pessoal. Esse material que não tem importância imediata era chamado por Freud de pré-consciente.

O inconsciente pessoal continha informações passadas ou futuras (retrospectivas e prospectivas). As futuras, relacionam-se às coisas que as pessoas sentiam que tenderiam a acontecer. O inconsciente pessoal serve para compensar ou equilibrar atitudes e idéias conscientes. Se as opiniões conscientes de uma pessoa forem muito parciais, o inconsciente pessoal pode salientar o ponto de vista oposto por meio dos sonhos ou outros meios para restaurar algum tipo de equilíbrio.

- Inconsciente coletivo => nível mais profundo de inconsciência, composto de símbolos emocionais poderosos: os arquétipos (são transpessoais e não pessoais ou individuais).

Os arquétipos originaram-se das reações emocionais de nossos ancestrais a eventos e relações interpessoais repetitivos, e que nos predispõem a reagir de maneira previsível a estímulos comuns e recorrentes.

Ex: animus (masculino de uma mulher) e anima (feminino de um homem).

Persona (face socialmente aceitável) e sombra (lado escuro e inaceitável da personalidade, desejos e motivos vergonhosos) => aparência externa e o interior .

Mãe => incorporação da generatividade e fertilidade. Bom ou mau.

Herói => força impetuosa e boa que luta com o inimigo para salvar algo, do mal.

Demônio => incorporação da crueldade e maldade.

- A Psicologia científica moderna duvida da existência do insconsciente coletivo.

- Complexo= > conjunto de sentimentos, pensamentos e idéias carregado emocionalmente com um tema particular (identidade, inferioridade etc). O potencial do complexo é determinado por sua libido ou “valor”.

Libido => diferentemente de Freud, descreve uma energia psíquica geral não necessariamente de natureza sexual.

- Personalidade => composta de forças opostas constantemente em luta entre si, estabelecendo (em uma pessoa saudável) algum equilíbrio.

- Funções da mente:

1) Sensação => “Há alguma coisa ali?”

2) Pensamento => “O que é aquilo ali?”

3) Sentimento => “Que valor tem isso?”

4) Intuição => “De onde vem isso e para onde está indo?”

Pensamento e sentimento => racionais, pois envolvem pensamento e ponderação. Sensação e intuição => irracionais. Uma é sempre dominante.

- Atitudes da mente:

1) Extroversão => libido direcionada para as coisas do mundo externo

2) Introversão => libido direcionada para as coisas do mundo interior.

Essas atitudes existem em todos os indivíduos, mas uma é dominante. A combinação das quatro funções e duas atitudes geram oito tipos de personalidade. Ex:

1) Sentimento e extroversão => orientado para o externo, faz amigos com facilidade, espalhafatosa e influenciada pelos sentimentos emocionais alheios.

2) Sentimento e introversão => sentimento canalizado para a introspecção e preocupação com experiências interiores. Poderia ser interpretado como indiferente, “falta de sentimento”.

- Jung, ao se confrontar com Freud, abriu caminho para o novo fundamento conceitual sobre motivação e o ego, permitindo que outras abordagens florescessem. Influências sobre as abordagens existencial-humanísticas. Era mais filósofo do que cientista.

2 - Alfred Adler => contribuição: o complexo de inferioridade. Foi membro do grupo freudiano por vários anos. Em 1911, por divergências com Freud, renunciou ao cargo de presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena. Logo depois fundou sua própria sociedade, chamada Sociedade de Psicanálise Livre (mais tarde chamada Sociedade de Psicologia Individual). Para Freud, as motivações primordiais eram o prazer e a sexualidade. Para Adler, as motivações eram mais complexas.

- Psicologia Individual => Adler acreditava nas motivações exclusivas dos indivíduos e na importância da posição percebida por cada pessoa na sociedade. Importância dos aspectos teleológicos, ou a orientação para metas, da natureza humana. Era mais preocupado com as condições sociais, vendo a necessidade de medidas preventivas para evitar distúrbios na personalidade.

- Principal essência da personalidade => luta pela superioridade.

- Complexo de inferioridade => sentimento desconfortável de ser estúpido.

- Complexo de superioridade => origina-se da tentativa de superar o complexo de inferioridade e manter um sentimento de auto-estima.

- Agressão => reação à percepção de impotência ou inferioridade, ataque violento contra a incapacidade de alcançar ou de dominar alguma coisa.

- Protesto masculino => tentativa individual de ser competente e independente, autônomo.

- Luta pela perfeição => as pessoas não ligadas neuroticamente a um complexo de inferioridade passam a vida tentando alcançar metas ficcionais.

- Tipologia de Adler:

1) Dominante => agressivo e dominador

2) Obtentor => tira dos outros, um tanto quanto passivo

3) Evitante => vence os problemas fugindo

4) Socialmente útil => enfrenta os problemas realisticamente, é cooperativo e cuidadoso.

Ex: crianças com deficiência física => podem se tornar dominadoras, por tentarem desafiar sua condição de uma maneira não social; quando o fazem de maneira social, tornam-se cooperadoras. Quando são passivas de maneira não social, pegam o que as outras pessoas dispensam; quando são passivas e deprimidas, fogem dos problemas. Quando são desafiadas, ficam com a mente sobrecarregada e tornam-se egoístas. O caminho para a saúde física e mental pede a superação desse egoísmo.

3 - Karen Horney:

n Mudou a maneira como a psicanálise via as mulheres, descartando a teoria freudiana acerca da inveja do pênis e mostrando outros motivos pelos quais as mulheres sentiam-se inferiores aos homens.

n Mostrou que as relações sociais, a falta relativa de oportunidades, determinavam esses sentimentos de inferioridade.

Ansiedade básica:

n Sentimento de abandono e insegurança da criança.

n É o medo da criança de estar sozinha, desamparada e insegura.

n Advém de problemas nas relações da criança com os pais, como a falta de afeto, estabilidade, respeito ou envolvimento.

n Horney deu uma interpretação mais inclusiva e interativa deste conceito.

n Acreditava que uma das mais importantes descobertas da criança era a de sua própria impotência.

n A luta da criança para ganhar individualidade e controle é o que modela grande parte do self.

n Acreditava na importância da auto-realização e no amadurecimento de cada indivíduo.

n Acreditava que os motivos inconscientes e irracionais que Freud dizia impulsionar as pessoas, originavam-se de conflitos sociais dentro da família e da sociedade.

Rejeição da inveja do pênis:

n O sentimento de inferioridade da mulher não advinha da ausência do pênis em seu corpo, mas da maneira como as mulheres eram educadas na sociedade e da ênfase exagerada para que se assegurassem do amor de um homem.

n Ambientes que definem “masculinidade” como força, valentia, competência e liberdade e definem “feminilidade” como inferioridade, delicadeza, fragilidade e submissão, fazem com que as mulheres anseiem por coisas “masculinas”, para adquirirem poder.

Estilos de pessoas:

n Estilo passivo => daquelas pessoas que acreditam que podem fazer maior progresso sendo condescendentes.

n Estilo agressivo => daquelas que acreditam em lutar para sobreviver.

n Estilo retraído => daquelas que sentem que é melhor não se envolver emocionalmente de modo algum.

Diferentes tipos de self:

n Self real => essência interna da personalidade, o que nós percebemos sobre nós mesmos abrangendo o nosso potencial de auto-realização e que é prejudicada pela negligência e indiferença dos pais.

n Self ideal => o que uma pessoa considera perfeito e espera realizar. É identificado por Horney como modelado por impropriedades percebidas. É sempre o que a pessoa deveria “fazer”.

n Self desprezado => pode ser originado da negligência dos pais. Consiste em percepções de inferioridade e deficiência, na maioria das vezes baseadas em avaliações negativas que outras pessoas fazem de nós e dos sentimentos de impotência resultantes.

A finalidade da psicanálise, para Horney, não era ajudar alguém a alcançar seu self ideal,mas capacitar a pessoa a aceitar seu self real. As pessoas tornam-se neuróticas e desenvolvem uma estratégia de enfrentamento interpessoal para “solucionar” esse conflito.

Estratégias neuróticas de enfrentamento:

n Aproximação => tentar fazer os outros felizes, obter amor e assegurar a aprovação e a afeição dos outros.

n Expansão => lutar por poder e reconhecimento e pela admiração dos outros.

n Afastamento => desviar-se de qualquer investida emocional nas relações interpessoais, no sentido de evitar ser ferido nessas relações.

Defesas contra a ansiedade ou necessidades neuróticas:

n Afeição e aprovação => sempre tentar agradar aos outros.

n Parceiro dominador => dependência exagerada.

n Poder => necessidade de controlar os outros e de desdenhar a fragilidade.

n Exploração => medo de ser explorado, mas não de explorar.

n Reconhecimento e prestígio => busca constante por um status mais alto.

n Admiração => busca de elogios, mesmo se imerecidos.

n Ambição e realização =. Desejo de ser superior, em conseqüência da insegurança interior.

n Auto-suficiência => não confiar nunca nos outros.

n Perfeição => busca da impecabilidade.

n Limites estreitos => contentar-se com pouco e, portanto, subjugar-se.

As pessoas neuróticas concentram-se impulsivamente em uma dessas necessidades em todas as suas interações sociais. Essas necessidades são soluções irracionais aos desafios que todos nós enfrentamos. A necessidade de um neurótico nunca pode ser satisfeita.

4- Erik Erikson

n A fase adulta não é simplesmente uma reação às experiências na infância, mas um processo de desenvolvimento contínuo influenciado por seus próprios estágios anteriores.

n Em cada estágio, determinada crise de ego tem de ser resolvida, e a resolução bem-sucedida de cada uma permite o desenvolvimento saudável nos estágios posteriores, por toda a vida.

Formação da identidade e crises do ego:

n A formação da identidade é um processo que dura a vida toda.

n Os indivíduos podem e, de fato, experimentam mudanças significativas, assumindo alguma responsabilidade pessoal pela própria vida.

n A personalidade desenvolve-se ao longo de uma série de oito estágios à medida que a vida se desdobra.

n A personalidade resultante de cada estágio depende até certo ponto do resultado do estágio anterior e a negociação eficaz em cada estágio das crises do ego é fundamental para o crescimento favorável.

Teoria sobre os estágios de desenvolvimento:



Crises de Ego:

n Confiança x desconfiança => corresponde à fase oral, de Freud. O ego alcança a habilidade da esperança. Idade: Infância (1º ano de vida).

n Autonomia x vergonha e dúvida => corresponde à fase anal, de Freud. O ego alcança a habilidade do desejo. Idade: início da meninice.

n Iniciativa x culpa => corresponde à fase fálica, de Freud. O ego alcança a habilidade da intenção. Idade: do início à fase intermediária da meninice.

n Destreza x inferioridade => corresponde à fase de latência, de Freud. O ego alcança a habilidade de competência. Idade: da fase intermediária ao fim da meninice.

n Identidade x confusão de papéis => corresponde à fase genital, de Freud. O ego alcança a habilidade da lealdade. Idade: adolescência.

n Intimidade x isolamento => corresponde à fase genital, de Freud. O ego alcança a habilidade do amor. Idade: início da fase adulta.

n Generatividade x estagnação => corresponde à fase genital, de Freud. O ego alcança a habilidade da proteção. Idade: meia-idade.

n Integridade do ego x desesperança => corresponde à fase genital, de Freud. O ego alcança a habilidade da sabedoria. Idade: velhice.

Abordagens modernas da personalidade, que investigam a identidade, adotam um modelo funcional sobre a personalidade, ou seja, eles observam comportamentos e metas instigados para compreender o self que se encontra subjacente. Concordam que é vantajoso observar metas, motivos, conflitos e desejo, para entender mais completamente a pessoa que está por trás.